"Brasil ! Mostra a tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim" - ARTIGO

Por Cícero Matheus *

Caro leitor, e agora?...

Quem paga a conta?...

A Constituição de 1988 aconteceu em meio ao processo de redemocratização do país, que saía de um intenso período ditatorial, renascendo, portanto, um Estado Democrático de Direito, que tinha por objetivo resguardar a dignidade da pessoa humana, assegurando garantias fundamentais. A busca passou a ser por uma sociedade livre, justa e solidária; pela erradicação da pobreza e da marginalização, pela redução das desigualdades sociais e regionais; assim como pela promoção do bem a todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Sob a ótica do reconhecimento e de um entendimento democrático, vimos de 2003 a 2015 a economia e o desenvolvimento progredirem, marcando uma importante etapa de avanços sociais, o que mudou o Brasil. Uma prova disso foi a implantação de programas sociais, como o Bolsa Família, o Bolsa Escola, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil , o Luz para Todos, o Brasil Alfabetizado, o Educação para Jovens e Adultos, o Prouni , o Fome Zero, o  Primeiro Emprego, o FIES, o Minha Casa Minha Vida, o ENEM, o SISU, o Pronatec, o Brasil Sorridente, e o Mais Médicos, totalizando mais de 15 ações de inclusão.

Daí veio o Impeachment da presidenta Dilma Rousseff, entrou Michel Temer, e com ele o Brasil voltou a retroceder, a começar pelo corte de 94% nos projetos sociais, trazendo a tona novamente a face melancólica dos anos 90, quando predominavam as desigualdades sociais.

Como se não bastasse tamanho retrocesso, coisa pior estava para acontecer. Após anuncio da presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Rosa Weber, em outubro de 2018, de que Jair Bolsonaro estava eleito presidente do Brasil, o país mergulha ainda mais no obscurantismo, retroagindo sobretudo políticamente. A democracia desaparece, a ditadura, que estava debaixo das cinzas e em brasas vivas, reaparece, assim como vampiro com sede de sangue. O país ressurgiu com força total nas asas do neoliberalismo, levando à ascensão o lado fascista do capitalismo selvagem.

Partindo dessa análise, depois de quase sete meses da gestão fascista de Jair Bolsonaro, que pousa de "bom moço" e usa o slogan "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", o Brasil só desce ladeira abaixo, sem freio, tornando gritante e galopante a face das desigualdades sociais, acrescida da estagnação econômica, que rouba milhões de empregos.

A transição do país mais solidário e democrático para o país autoritário e de exclusão, além da forma como isso se deu (através das eleições), nos remete ao sábio e eterno refrão da música do Cazuza: "Brasil ! Mostra tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim"

Vivemos momentos em que o presidente da nação brasileira rasga a Constituição Federal dia após dia, trazendo consigo, em seu alforje de mão-de-ferro, a crise politica, econômica, social, jurídica e ética.

Estamos imersos numa grave conjuntura que pode desembocar numa autêntica convulsão social, haja vista o fortíssimo bloqueio do regime democrático de direito para os cidadãos e cidadãs, levado a cabo pelo Rei e seus vassalos, integrantes das elites que detêm os poderes econômico, financeiro, ideológico e politico.

Quando se grita ou se pensa em gritar "Brasil, mostra tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim", o povo dorme em berço esplêndido, anestesiado com morfina aguda. Já no Congresso Nacional, alguns partidos e parlamentares estão mais preocupados em dividir verbas, brigar por poder, ao invés de defender o povo brasileiro.

No final das contas, quem paga a conta somos nós !

*Cícero Matheus é diretor do Sindicato dos Bancários de Alagoas (Secretário do Interior).

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